sexta-feira, 6 de outubro de 2023

Muitas vezes, não compreendido instantaneamente, mas mesmo assim, muito bom.

King Crimson - Islands (1971)

Islands é um disco que requer paciência e talvez por isso alguns fãs do King Crimson torcem um pouco o nariz pra ele. Particularmente, eu não vi dificuldade alguma em me deixar levar pela sua música. Existe um desenvolvimento lento e sereno das peças, onde apesar de que, quem acompanha a banda, saber que eles costumam ter um lado suave, aqui é diferente, pois as coisas giram inteiramente em torno dessas passagens musicais, tendo raros momentos mais ásperos e pesados. Admito que não é bem um álbum pra iniciar no universo musical do King Crimson.

“Formentera Lady” abre o disco com um bom baixo, levando o ouvinte de imediato a uma atmosfera clássica. Logo se junta a uma boa flauta e piano, que são abraçados pelas primeiras frases vocais. Após os três primeiros minutos, a música começa a decolar com os brilhantes tambores jazzísticos começando um pouco timidamente, mas depois crescendo. Tem um momento de improvisação de piano que é belíssimo. Mais a frente, há algumas peças agradáveis de violão, com Fripp mostrando seu habitual talento. O final da música traz algumas partes brilhantes de improvisação.

“Sailor's Tale” começa com tambores funky e um baixo, onde logo se juntam a guitarra e saxofone. A parte do solo de guitarra se encaixa muito bem na música, levando a peça a um clímax que é muito bom, com alguns instrumentos que tocam uma nota que se encaixa perfeitamente no motivo rítmico. O solo de saxofone é incrível. Após isso, a música começa uma parte maravilhosa e descontraída, com Fripp “brincando na guitarra”. Sua diferença melódica e rítmica do baixo e da bateria é ótima. De repente, essa parte ganha velocidade, seguindo agora com um apoio orquestral e improvisação da bateria.

“The Letters” começa com voz e trabalho acústico de guitarra. Essa parte é bastante emocional, com a guitarra escolhendo melodias continuamente alternadas. De repente, acontece uma explosão musical, bem ao estilo que a banda costuma fazer, logo depois a peça retorna a algo mais suave, com todos os membros da banda mostrando que eles fazem música progressiva como deve ser, complexa, virtuosa e sentimental.

“The Ladies of the Road” é minha música favorita do disco, embora seja um pouco repetitiva. O baixo e a bateria são muito divertidos, com o excelente saxofone que toca no começo. O vocal faz um bom trabalho, mostrando algumas emoções muito bem construídas O coro é maravilhosamente suave, com o alto som da guitarra e as segundas vozes. No final da música, tem um lindo solo de saxofone, mostrando mais um belo trabalho de Mel Collins. “Prelude: Song Of The Gulls” é uma bela peça clássica, preparando o ouvinte para a faixa homônima ao disco e que fecha o trabalho. É uma música simples e que combina perfeitamente com o resto do disco, belas melodias que se assemelham com a introdução de Islands.

“Islands” mostra um equilíbrio perfeito de letra e música, uma paternidade de Fripp e Sinfield. Traz uma belíssima melodia de piano e flauta. Tem um momento de saxofone solitário, o vazio de tudo se soma a atmosfera triste. A parte vocal/piano se repete, mas em vez de terem a flauta como companhia, o violino a substitui. Uma faixa que se desenvolve muito bem e dá uma sensação onírica ao ouvinte, um poder imaginativo e a capacidade de despertar inúmeras sensações diferentes.

Por mais que o King Crimson dos anos 70 seja uma banda impressionante, nem sempre tudo produzido pela grupo na época deve ser encarado como algo que o ouvinte vai sentir amor à primeira audição. Islands é justamente esse tipo de registro, muitas vezes não compreendido de forma instantânea, acaba sendo largado de mão. Mas se lhe derem mais do que uma chance, é grande a possibilidade que qualquer má impressão inicial mude.

Contato: progrocksociety85@gmail.com

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